O culto da infância e a repressão da sexualidade infantil

por Bill Paris

(Nota do autor: O seguinte documento deve ser considerado um documento preliminar. Nele, tento destacar problemas sobre os quais, já por alguns anos, tenho mostrado considerável interesse, conduzido pesquisas e, até mesmo, escrito o trabalho anterior chamado “O corpo, a sexualidade e o Cristianismo”. Meu intuito é continuar o estudo e posteriormente criar um relatório mais abrangente, talvez em um formato diferente. Porém, o entendimento sobre a sexualidade na infância, na nossa cultura, é neste momento deplorável. Tanto a atitude dos cristãos quanto a das pessoas seculares parece estar aumentando de maneira mais reacionária e paranoica, apesar da noção de que nossa sociedade está se tornando cada vez mais sexualmente liberal. Além disso, perguntas e problemas relacionados à sexualidade na infância são frequentemente levantados em nossos debates na internet. Essas razões parecem atrair, neste momento, uma tentativa de começar a lidar com alguns desses problemas críticos).

ÍNDICE

O QUE É INFÂNCIA?

COMO CHEGAMOS AQUI?: A INFÂNCIA NA HISTÓRIA

O CONFLITO BIOLÓGICO E SOCIAL E A INVENÇÃO DE CRIANÇAS NÃO SEXUAIS

A SEXUALIDADE NA INFÂNCIA EM OUTRAS CULTURAS: O PAPEL DO CULTIVO E DA INTIMIDADE PATERNA

CULTURA AMERICANA: A CENSURA PATERNA E RELIGIOSA DA SEXUALIDADE NA INFÂNCIA

O NATURAL DO CORPO E DO SEXO

UM DESAFIO PARA OS SWINGERS

O CONTATO SEXUAL ENTRE ADULTO E CRIANÇA: SAUDÁVEL OU DOENTIO?

ESQUISITICES SEXUAIS EM NOSSA CULTURA: DOIS CASOS CONTEMPORÂNEOS

O QUE ESTAMOS APRENDENDO E PARA ONDE VAMOS?

O QUE É INFÂNCIA?

Na minha opinião, muito da confusão que existe em nossa sociedade sobre a sexualidade na infância leva a uma falha em entender os desenvolvimentos históricos e culturais. Há, por exemplo, uma visão predominante em nossa sociedade de que “crianças” não devem “fazer sexo”. Quanto isto é dito, o que significa “crianças” e o que significa “fazer sexo”? A infância deve ser definida pela legislação civil que indica a idade legal em que uma pessoa pode ter relações sexuais (é isso que significa, aliás, “fazer sexo”)? E que tal o fato de que nos Estados Unidos essa idade, referida como a “idade do consentimento”, varia amplamente entre os estados? Essas idades variam entre 12 em Delaware a 18 em muitos estados. Ou, a infância termina quando uma pessoa pode legalmente comprar e consumir álcool? - o que também varia de estado a estado e não coincide necessariamente com a idade do consentimento. Ou, a pessoa se torna um adulto quando ele/ela pode dirigir, votar e casar? Essas idades, também, não coincidem necessariamente em qualquer estado, muito menos entre os estados.

Os limites de idade acima são barreiras legais. E, com relação a idades biológicas e psicológicas, especialmente puberdade? Uma pessoa deve ser legalmente “qualificada” a fazer sexo na puberdade? De fato, em poucos estados onde a idade do consentimento é bastante baixa, a puberdade e a idade legal pouco coincidem, mas esses estados estão na minoridade.

Além do mais, o que significa “fazer sexo”? Na mente popular significa provavelmente manter relações sexuais. (Aliás, as leis civis e criminais não usam o termo popular “fazer sexo”, mas se referem a atos sexuais ou outras formas de contato sexual). E com relação a essas “outras formas” de “contato sexual”? As leis do estado discutem coisas como sexo oral (ainda ilegal em muitos estados) e o mero “toque” dos órgãos genitais ou dos seios em termos de ofensas puníveis sexualmente quando “crianças” estão envolvidas. Algumas dessas provisões diferem dependendo de onde uma pessoa é legalmente adulto ou não. Esses outros tipos de contato, que podem ser eroticamente muito prazerosos ou até mesmo produzir orgasmos, podem ser qualificados como “fazer sexo”?

Um pode prosseguir com a confusão, tanto popular quanto legal, existente em nossa sociedade sobre o assunto da sexualidade na infância. Talvez esta pequena discussão seja suficiente para apontar os problemas.

A desesperadora situação na qual crianças e adultos se encontram em nossa sociedade sexualmente ignorante e repressiva parece, a meu ver, clamar por um entendimento sobre como chegamos a este ponto.

COMO CHEGAMOS AQUI?: A SEXUALIDADE NA HISTÓRIA

A Reforma Protestante do século XVI, o período do Iluminismo do século XVIII e a Revolução Industrial do mesmo período produziram profundas consequências na Europa e na América sobre o comportamento da sociedade e da igreja perante as crianças. Essas mudanças alteraram permanentemente a definição da infância e da vida adulta e das funções, direitos e obrigações sexuais da juventude na sociedade.

Antes desses desenvolvimentos históricos, as crianças tinham sido vistas sobretudo como possíveis adultos (bebês e crianças) ou verdadeiros adultos (crianças mais velhas e adolescentes) em termos de estruturas econômicas de famílias, tribos e maiores grupos sociais. As crianças foram vistas como essenciais trabalhadores nessas estruturas. O foco desse fenômeno esteve na maior parte das sociedades agrícolas do mundo todo antes da Revolução Industrial. Nessas sociedades, o árduo trabalho físico de toda a família foi fundamental para a sobrevivência.

As revoluções espirituais, intelectuais e mecânicas mudaram fatalmente a forma como os humanos viam a si mesmos e suas relações pessoais e sociais. Este período de tempo foi provavelmente o começo, pelo menos na Europa e na América do Norte, do tipo de autoconsciência e autoanálise que gerou finalmente as ciências sociais, especialmente as áreas psicológicas e relacionados.

Quanto à Reforma, motivados em parte pelo novo espírito de liberdade, os Cristãos se tornaram mais interessados pela saúde e pelo bem-estar social do próximo. Não significa que as obras de caridade com os pobres e os doentes não tivessem existido, mas esse período viu uma enorme explosão de tais esforços.

Um desenvolvimento desse período foi a crescente consciência de que talvez as crianças não fossem fisicamente apropriadas para a maior parte do trabalho que realizavam. Também, houve uma nova preocupação para com os órfãos, que frequentemente saíam em bandos de mendigos e ladrões e eram geralmente negligenciados e até mesmo abusados pela sociedade.

A Revolução Industrial foi a engrenagem que começou a conduzir os povos da Europa e da América do Norte a saírem das fazendas e irem para as cidades onde a fabricação e suas empresas de apoio demandaram trabalhadores para produzir os bens e os serviços que ofereciam a premissa de uma vida melhor. Durante este período, as crianças frequentemente sofriam, sendo coagidas a trabalharem nas fábricas - e este trabalho foi provavelmente mais árduo do que o que faziam nas fazendas.

Assim, as igrejas e as outras instituições de caridade tomaram conhecimento dessa condição, o que levou à criação de leis contra o trabalho infantil para a proteção dessas crianças.

O foco da vida na Europa Ocidental e na América mudou ainda mais, certamente, da vida rural à urbana no final do século XIX e início do século XX. A vida realmente “melhorou” e ficou mais fácil para a maioria das classes, em comparação ao séculos anteriores. A expectativa de vida e de saúde física melhorou. As doenças foram melhor controladas. As guerras diminuíram, permitindo à raça humana dessas sociedades prosseguir com a vida ao contrário de prosseguir para a morte.

Assim como esses desenvolvimentos ocorreram, a massa de crianças se aprimorou, mas seu papel como membros produtivos e essenciais da sociedade diminuiu.

O desenvolvimento que fechou o ciclo do “culto da infância” foi a compulsória educação pública. Foi o resultado dos primeiros desenvolvimentos que ensinaram a utilidade prática das crianças. Foi também uma nova força que reestruturou a infância de forma que a juventude, a partir de agora, é definida como “crianças” e “estudantes”, e não pseudoadultos. A partir de agora, a tarefa da criança, nunca totalmente clara para ela, mas continuadamente mantida e administrada por instituições educacionais, estava prestes a guiá-la durante muitos anos de escola em direção ao objetivo de “se formar”. Após a graduação, havia ainda a faculdade (mais anos de atividade economicamente improdutiva) ou possivelmente trabalho e, finalmente, em algum momento, o casamento.

Até mesmo a igreja se envolveu com a “educação” no século XIX, ao criar a “escola” DOMINICAL.

O desenvolvimento da educação institucional para as crianças foi o resultado de uma mudança de outro desenvolvimento incrivelmente importante desse período, nomeadamente a mudança na estrutura familiar desde a família ampliada até o que hoje conhecemos como núcleo familiar. Antes desse tempo, as famílias tinham vivido em grandes unidades, incluindo avôs, tios, primos e assim por diante. Dentro dessa estrutura, ocorria a maioria da educação das crianças. Enquanto que nos tempos antigos provavelmente pouca instrução verbal foi dada sobre sexo no sentido moderno “educação sexual”, as crianças aprenderam ao ver e escutar o que se passava nessas grandes famílias e a instrução verbal dada era um tipo muito prático - o “como fazer” da ligação entre homem e mulher. E havia uma variedade de perspectivas incluídas nessa educação pois havia uma variedade de adultos, não somente pais, para orientar. Visto que a família ampliada desapareceu e as instituições externas cuidaram da educação das crianças, essa forma natural de educação sexual começou a desaparecer junto das outras instruções tradicional.

Com esses desenvolvimentos, as crianças agora seriam completamente “protegidas”, cuidadas, educadas em vários sentidos, tratadas como frágeis e realmente vistas como uma classe totalmente diferente dos adultos. Assim foi criado o “culto da infância”. O resultado em nossos dias é que, em alguns casos, as crianças são mais veneradas e certamente “mimadas”, tendo pouco a fazer para com a vida da nossa civilização prática e produtiva de hoje.

AS DUAS INFÂNCIAS:

O CONFLITO BIOLÓGICO E SOCIAL E A CRIAÇÃO DE CRIANÇAS NÃO SEXUAIS

Parece que algo esteve faltando durante esse período de várias centenas de anos de desenvolvimento do culto da infância. Esse foi o desenvolvimento progressivo de um conflito entre a maturidade biológica e sexual de crianças e os papéis sociais agora atribuídos a elas, que trazia nenhuma saída socialmente aprovada para a sua sexualidade.

De fato, quando esse conflito foi finalmente percebido, tanto a sociedade leiga quanto a igreja foram obrigadas por sua própria servidão à cultura da infância que haviam criado para essencialmente declarar as crianças como não sexuais. Quando enfrentados, entretanto, com uma incômoda realidade biológica (que as crianças “não sexuais” não poderiam deixar de sentir e agir de maneira sexual), os poderes sociais, educacionais e religiosos do adulto se tornaram uma variedade de táticas repressivas para controlar os pestinhas. Essas táticas iam desde instruções sobre quão “certo” seria não “brincar consigo” ou com outras crianças para evitar punições físicas e legais por um comportamento sexual. O século XIX foi o apogeu dos cintos de castidade e das engenhosas máquinas diabólicas para evitar a masturbação.

A igreja começou a criar, de forma oculta, um conjunto de dogmas, em sua maioria aproveitando o mal entendido do termo grego “porneia”, citado no Novo Testamento, com o propósito de apoiar a noção de crianças não sexuais efetivada na sociedade. (Para maior discussão sobre o real significado do termo “porneia”, mal interpretado como “fornicação” na maioria das bíblias em Inglês, veja outros estudos bíblicos dos Cristãos Libertos).

Essas doutrinas não são nada bíblicas. Na época do Antigo Testamento, o sexo era considerado muito mais natural e normal do que atualmente, apesar de haver certas restrições sexuais necessárias tanto pela falta de controle de natalidade quanto pela necessidade de preservar a herança familiar em uma sociedade patriarcal. (Veja outros estudos dos Cristãos Libertos sobre o adultério e o sistema patriarcal do Antigo Testamento). A cultura do Velho Testamento foi também a cultura da família ampliada na qual o tipo de educação sexual natural, a que me refiro acima, teria ocorrido. Também devemos lembrar que as ideias modernas de infância não existiam nos dias bíblicos.

Por meio dessas doutrinas a igreja pôde justificar o que foi ascendido à perseguição de suas próprias crianças, em nome de Deus, pela audácia dessas ao tentar expressar sua sexualidade - uma sexualidade na verdade dada a elas por Deus.

A palavra perseguição é agressiva, mas acredito que nada menos aconteceu na história da igreja e ocorre hoje da forma como as crianças são tratadas em termos de sexualidade. Eu sou somente uma das incontáveis pessoas que podem lembrar o medo, as repreensões e até mesmo os castigos físicos ligados ao desenvolvimento sexual de uma criança. Começando por sua própria ignorância e seguindo os ensinamentos negativos do Cristianismo tradicional, milhões de pais passaram para milhões de crianças a crença de que sua sexualidade (e corpo) era algo para se ter vergonha, ser escondido e não ser mencionado. Na verdade, o que é dado por Deus é odiado e constantemente rebaixado como um mal. O que é isso senão perseguição e aprisionamento da alma e do corpo?

Uma das áreas em que esse tratamento de crianças tem ocorrido é o casamento. Durante toda a história humana as sociedades permitiram o casamento praticamente na idade da puberdade. A igreja por si só durante séculos teve a tendência de seguir o padrão judeu de 12 anos para garotas e 13 anos para garotos, sem haver motivo para esses se casarem tão cedo. Efetivamente, a infância terminava e a vida adulta começava nesse momento. Em muitas sociedades, pouco antes da idade do admissível casamento chegava o “rito de passagem” ou “rito de puberdade” que formalmente sinalizava o início da juventude com os privilégios e as responsabilidades da vida adulta. Hoje em dia, essas práticas permanecem em algumas culturas e em algumas tribos indígenas americanas modernas é esperado que as pessoas sejam sexualmente ativas pelo menos até a puberdade. Assim, alguns começam a formar famílias nessa idade, apesar das leis do homem branco poderem proibir.

Assim, como discutiremos neste artigo, nas sociedades preparadas para o casamento precoce, é comum que as crianças tenham permissão ou sejam até mesmo motivadas a brincadeiras e a experimentos sexuais desde jovens. Isto é visto como o início de um processo natural que os prepara para a função sexual completa como adultos. Talvez um dos piores segredos guardados na vida sexual de nossa cultura seja que as nossas crianças também participem de vários tipos de brincadeiras sexuais. Ainda, visto que a brincadeira é ignorada, ativamente desencorajada ou até mesmo punida, ela se torna parte de uma vida secreta de nossa juventude e contribui significantemente para todo o padrão de “viver a vida sexual no escuro”.

Apesar de muitas atitudes liberais acobertadas de nossa cultura, aí permanece a noção de que a real atividade sexual somente começa no casamento. Até se o funcionamento sexual saudável no casamento não fosse inibido por ensinamentos negativos que recebemos quando crianças, mais dano acaba sendo feito pelo típico adiamento do casamento longe dos anos de maturidade sexual.

Nas nações prósperas do mundo (não coincidentemente as nações que tanto salientam a importância da educação formal) a idade do casamento tem constantemente avançado nos últimos séculos, principalmente nos Estados Unidos, onde na década de noventa a idade média para o casamento aumentou para os 26 anos.

Sem estar perdido na teoria de alguns profissionais da educação, da medicina e da psicologia, mas praticamente ignorado, é o fato inconveniente de que a idade do surgimento da puberdade tem decaído firmemente em países desenvolvidos, ao menos no século 20, enquanto a idade do casamento tem aumentado.

Eu já disse que Deus nos criou para sermos adultos sexuais na puberdade e sermos sexualmente ativos muito mais cedo. A consequência disto é que os esforços históricos e modernos em reprimir a atividade sexual jovem são na verdade contra uma normalidade criada por Deus, ao invés de apoiarem sua vontade “moral”, conforme considerado pelos Cristãos conservadores.

Na minha opinião, a evidência histórica, cultural, biológica e psicológica é alarmante: nosso Criador desejou que fôssemos sexualmente ativos quando crianças e adolescentes, cada idade a seu nível, capacidade e propósito, e esta atividade deveria nos preparar para relações mais permanentes da idade adulta. Contudo, nossa cultura inibe esse processo de crescimento natural para entrarmos na idade adulta seriamente “paralisados” sexualmente e frequentemente incapazes de desfrutar satisfazer o próximo com intimidade sexual. Deveria ser mencionado, claramente, e sem desculpas, que a fonte primária desses resultados tristes é a perseguição e a servidão sexual provocada em crianças pelas visões tradicionais negativas do Cristianismo e da cultura cristianizada.

Dizem que um comandante militar uma vez se referiu a um “bater em retirada” como um “avançar para a retaguarda”. Acredito que seja possível ver da história apresentada que os “avanços” de nossa civilização no bem-estar social das crianças, as mudanças na estrutura familiar, a melhoria na saúde e a criação da educação pública têm sido um “avanço para a retaguarda” em termos de sexualidade na infância.

O avanço da civilização é sempre uma mistura: frequentemente os avanços verdadeiros do ser humano são compensados pelas perdas em outras áreas. Os antigos abusos com as crianças diminuíram. A morte lenta do sistema patriarcal provavelmente beneficiou as crianças, principalmente meninas, bem como mulheres. Apesar desses exemplos positivos, o desenvolvimento sexual natural das crianças, criado por Deus, na visão psicológica tem sido sacrificado no altar de outros progressos.

A SEXUALIDADE NA INFÂNCIA EM OUTRAS CULTURAS:

O PAPEL DO CULTIVO E DA INTIMIDADE PATERNA

Pais e outros adultos, em algumas culturas, veem o que os pais da nossa cultura veem, mas com visões diferentes. Biologicamente, as crianças de todas as culturas são parecidas: as meninas têm lubrificação vaginal enquanto os meninos sentem certas ereções. Em algumas culturas, esses casos são compreendidos como um fenômeno natural que desenvolverá com o tempo maiores esforços conscientes com relação à autodescoberta e à experimentação com seus pares.

Nas culturas que reconhecem esses eventos como naturais e normais, há frequentemente o envolvimento de pais na estimulação das áreas genitais de seus bebês - uma atividade que é simplesmente aceita como forma de conscientizar o interesse de suas crianças positivamente para o seu desenvolvimento. Nunca ocorreria para esses pais que isso fosse prejudicial às crianças, como julga-se em nossa cultura.

Em outras culturas, os pais até mesmo ensinam suas crianças a como se masturbarem e alguns pais ou outros homens adultos colocam suas filhas na iniciação sexual ao manter relações com elas. Não há indicação de que essas práticas prejudiquem as crianças, mas há a forma de como ensinar boas habilidades sexuais a suas crianças.

As crianças aprendem a fazer todo o resto, desde escrever o alfabeto até martelar um dedo, de pessoas mais velhas e experientes. Mas com relação a sexo, é um tabu! Sim, isto é um puro preconceito cultural, baseado na longa história sexual da repressão e dos ensinamentos negativos, na maior parte, religiosos. Não tem base em qualquer realidade desenvolvida psicologicamente na natureza humana.

Na ilha de Mangaia, no Pacífico Sul, os bebês são “pessoas especiais, embaladas e importantes a todos os membros familiares. As genitais são estimuladas e a manipulação lingual do pequeno pênis é comum”. “A privacidade é desconhecida, já que cada cabana tem cinco a dezesseis integrantes da família, de todas as idades. [Lembre-se de nossa discussão sobre família ampliada e o seu papel na educação sexual]. As filhas adolescentes frequentemente recebem amantes à noite e os pais participam para que os jovens possam ser acordados pelo estalar das genitálias molhadas. Apesar de os adultos raramente falarem com as crianças sobre sexo, a vontade e os impropérios eróticos são comuns.”

“Aos três ou quatro anos, as crianças se reúnem e exploram os mistérios da densa floresta tropical. A brincadeira sexual floresce na vegetação e a atividade pode começar neste momento”.

As crianças também aprendem sobre sexo umas com as outras e “as garotas jovens também aprendem com as mulheres idosas, que contam histórias e fazem instruções práticas”. O garoto jovem é ensina na puberdade pelos mais velhos. [Lembre-se dos ritos da puberdade discutidos acima]. [Ele] é treinado em técnicas tais como beijar e chupar seios. Ele é ensinado sobre lubrificação e treinado em métodos para trazer sua parceira ao clímax várias vezes antes de sua ejaculação”. (Alayne Yates, Sexo Sem Vergonha: Motivando o Desenvolvimento Sexual Saudável das Crianças [Sex Without Shame: Encouraging the Child's Healthy Sexual Development], pág. 71 e 72)

E assim continua a descrição dos processos de educação sexual nessa cultura, que são naturais, práticos e baseados na aceitação da sexualidade como normal e natural. As crianças, em uma cultura tão “primitiva”, crescem com mais conhecimento, entendendo e aceitando sua própria sexualidade, bem como a competência sexual das relações, do que a maioria das crianças em nossa cultura. E ainda, não apenas alguns americanos criticariam uma permissividade geral dessa cultura, mas a noção do explícito e a instrução adulta seriam vistas como inaceitáveis, se não abusivas.

Deveria ser óbvio que o contraste entre o tratamento americano típico para com o desenvolvimento sexual das crianças e o de Mangaia é um contraste entre servidão e liberdade, entre atitudes emocionalmente insalubres e saudáveis e, realmente, entre formas desafeiçoadas e afeiçoadas de se relacionar com as crianças.

Até mesmo em nossa cultura os estudos têm mostrado que os bebês que vivenciam uma maior intimidade física não sexual com os seus pais têm mais chance de se masturbarem do que as crianças que não recebem tal atenção. Um estudo relatou que quando havia carinho, cuidado amoroso com a criança pela mãe, as brincadeiras genitais estavam presentes em todas as crianças. De acordo com esse pesquisador, tal atividade autoerótica por parte da criança nos primeiros 18 meses de vida pode ser um forte indicador da qualidade dos pais. (Sexualidade humana – Enciclopédia [Human Sexuality--An Encyclopedia], pág. 112)

Para não serem negligenciados, aqui estão os benefícios emocionais e físicos do toque físico não sexual entre pais e crianças. As crianças que recebem uma afeição física positiva desenvolvem, em geral, melhores ajustes emocionais tanto quando crianças e adultos, do que as crianças que não recebem tal toque positivo ou que recebem toques negativos (punições físicas). Seu relacionamento a longo prazo com os pais é também mais positivo com base emocional. Isto é benéfico não somente às crianças mas também aos pais, como um resultado satisfatório de criar os filhos. Com relação a mim, nunca recebi muita afeição física na infância (pelo menos é o que consigo lembrar). Com relação aos outros, entretanto, pude aprender sobre o valor disso para os meus filhos e hoje colhemos juntos os benefícios conforme se aproximam à vida adulta. Eles já viram seus pais se divorciarem, mas permanecem fisicamente afetivos comigo. (Gostaria de salientar que nunca houve qualquer implicação sexual em nossas demonstrações de afeição física). Conforme apontado anteriormente por Dave, o toque físico também estimula endorfinas saudáveis no corpo que promovem a saúde física e emocional.

O fato de que o toque físico combinado com a intimidade emocional promove saúde física e emocional às crianças cria a falha, ainda mais grave, de tantos pais nessas áreas. Poderia ser argumentado que a maioria das doenças emocionais e físicas de nossa sociedade leva à falta de tal intimidade na infância.

Conforme a criança se desenvolve, a exploração do seu corpo se torna progressivamente mais complexa e sofisticada. Enquanto no primeiro ano não é capaz de realizar os complexos movimentos que caracterizam a masturbação intencional, o simples fato de manusear suas genitais pode ser notado como algo prazeroso. Entre o segundo e o terceiro ano de vida, a criança desenvolve o manuseio rítmico de suas genitais com as mãos, o que prevê as deliberadas técnicas de masturbação dos próximos anos (A Sexualidade Humana- Uma Enciclopédia [Human Sexuality--An Encyclopedia], pág. 113).

CULTURA AMERICANA:

A CENSURA PATERNA E RELIGIOSA DA SEXUALIDADE NA INFÂNCIA

Enquanto em algumas culturas a consciência paterna desses desenvolvimentos traz a satisfação de que o bebê está se desenvolvendo normalmente em uma área de grande importância, em nossa cultura é típico que tal comportamento abale os pais cuja própria vida sexual tem problemas de repressão do passado e que são frequentemente neuróticos com relação à masturbação.

Visto que as mães são geralmente responsáveis pela socialização sexual de seus bebês, a forma como elas reagem à brincadeira sexual é crucial para o desenvolvimento deles. Na referida enciclopédia, os autores dizem que em nossa cultura a tarefa da mãe é “em geral... desencorajar a autoestimulação sexual, inibir impulsos sexuais na frente da família, supervisionar e então frustrar tentativas de brincadeiras sexuais com seus pares, e ensinar as crianças a serem cautelosas com estranhos”. Os pais também tentam controlar o que as crianças aprendem sobre os “fatos da vida” e de quem aprendem. Aí começa a se desenvolver uma “conspiração do silêncio [na qual] os pais mantêm um sigilo e uma privacidade com relação a sua própria vida sexual...”, fechando as portas dos quartos e dos banheiros, se separando das crianças no banho, especialmente separando por sexo, posteriormente, a assimilação de “recato” com relação a nudez e hábitos de como se vestir ou não se vestir, etc. Estes métodos têm “uma meta implícita de manter a curiosidade e a imitação adormecidas para as crianças, postergando o início da autogratificação sexual e limitando a atividade sexual”. (Enciclopédia, pág. 114)

Claro que os pais cristãos se tornaram habilidosos em tais métodos repressivos, ainda mais porque a “doutrina” que mencionei previamente oferece o que eles acreditam ser mandado por Deus para desencorajar a atividade sexual entre as crianças de mesma idade.

Além do mais, é impossível para os cristãos e tabus culturais erradicarem a necessidade e o desejo dos jovens pela intimidade sexual. Quando os jovens buscam intimidade sexual, com ou sem a aprovação da igreja ou da sociedade, estão simplesmente seguindo o jeito natural de Deus, apesar de mais tarde fazerem, de qualquer forma, por causa do ensinamento inadequado que receberam.

Não há crianças “perversas”. A perversidade está em na repressão sexual da igreja e da sociedade. Ao invés de serem importunados pela natureza de sua sexualidade e serem intimidados em um celibato impraticável (ou pior, forçados ao sexo irresponsável), as crianças deveriam ser ensinadas a como amar, respeitar e se preocupar com os outros, além de desfrutarem seu desejo sexual com segurança, sem qualquer dano.

Um recente filme mostrou na televisão a inquietação de um pai com o possível envolvimento sexual do filho adolescente. O diálogo acontecia assim:

Pai: “Vai sair hoje à noite? Há garotas lá?”

Filho: “Sim, haverá garotas”.

P: “Acho que é hora de conversarmos”.

F: “Ah tá, é sobre o papo de ‘coisas da vida’?”

P: “Sim”.

F: “Tá, pai, o que você precisa saber?”

P: “Engraçadinho. Deduzo que saiba como estar seguro?”

F: “Claro, pai”.

P: “Bom, só cuide para não fazer isso com alguém que você não se importará pela manhã”.

Esta cena pode dificilmente representar um pouco do ensinamento sexual adequado, mas eu fiquei impressionado com a pequena sabedoria do pai por se importar com a pessoa com quem seu filho poderia se envolver sexualmente. Tenho receio de que a maioria dos pais cristãos que conheço nem tentariam determinar se os seus filhos sabem sobre segurança sexual pelo medo de que tal conhecimento poderia encorajar à “promiscuidade”. Esta negligência ao ensinar, combinada com repressão, poderia levar suas crianças a um envolvimento sexual descuidado e impensado com seus parceiros, sobre com quem eles não “se importariam pela manhã”.

Na minha própria comunidade cristã, acredito que os moralistas seriam muitos pais que na verdade prefeririam que suas crianças ficassem grávidas ou contraíssem DSTs, ao invés de ensiná-las sobre segurança, responsabilidade e atitude sexual. Tais pais continuam a murmurar que a educação sexual leva à promiscuidade e que dizer para seus filhos falarem apenas “NÃO” é ainda o melhor conselho, mesmo enquanto seus filhos buscam suas inclinações sexuais às escondidas.

Com o risco de parecerem rigorosos ou cruéis, devo questionar se as pessoas que demonstram tais atitudes estão mesmo buscando o melhor para si ou para seus filhos. Acredito que não. Tristemente, a maioria das pessoas ficaria horrorizada ao pensar que na verdade estariam alertando seus filhos por constantemente insistir sobre abstinência e outras repressões sexuais. Na realidade, deveria ser dito que poucos têm ideia sobre o passado desgastado das visões negativas tradicionais sobre a sexualidade. Poucos profissionais cristãos (pastores, estudiosos, e até historiadores) até compreendem que essas visões surgiram das filosofias não judias e não cristãs do mundo antigo e foram importadas para o cristianismo por professores cristãos nos primórdios da fé - professores cuja educação formal foi baseada nessas filosofias. Essas táticas abusivas e terroristas se tornaram parte e uma parcela do significado do Cristianismo para a maioria das pessoas e não são reconhecidas pelo que de fato são.

Por isso, dolorosamente ciente, tive o motivo para escrever este artigo, na esperança e oração de que alguns pais e outros adultos possam implantar a real mudança na forma como as crianças são tratadas. A mensagem cristã é uma mensagem de LIBERDADE; é hora de aplicar essa mensagem à nossa própria sexualidade e de nossas crianças.

Um número de pesquisadores e psicólogos que estudam o desenvolvimento das crianças recomendam, há anos, a abertura sexual que é tradição já há séculos em algumas culturas. Eles sugerem que não somente seja normal e saudável a auto-brincadeira, mas também o sexo entre parceiros. Eles sugerem que sufocar tal brincadeira é na verdade alarmante, além de ser inútil. Uma recente mensagem de internet sugeriu, com ênfase exagerada sobre o abuso sexual de crianças na sociedade e com sua maioria como uma degenerada “caça às bruxas”, que o real abuso das crianças está em não reconhecer e não encorajar o seu desenvolvimento sexual normal, que inclui brincadeiras e aspectos de experimentações.

O NATURAL DO CORPO E DO SEXO

Outra questão fundamental a respeito do “natural criado por Deus” na vida de nossas crianças é aquela sobre a atitude em relação ao corpo. Dave e eu escrevemos de forma extensiva em outros lugares a respeito da questão da nudez e da aceitação do corpo. Basta dizer aqui que o que mais é ensinado às crianças é a vergonha e o ódio do corpo. Acima, mencionei que os pais normalmente ensinam seus filhos a “modéstia” em relação a nudez e se vestir. Isso não é nada mais nem nada menos do que ensinar aos seus filhos que se envergonhem de seu corpo e que devem cobri-lo para evitar atividade sexual ou “tentação”. O ensino de se envergonhar de seu corpo e de sua sexualidade estão necessariamente acompanhados. Muitas vezes, este fator é esquecido até mesmo por profissionais. Enquanto o movimento social nudista é falho na tentativa de descartar uma ligação entre o nudismo e a sexualidade, muitos nudistas estão cientes (e pesquisas comprovam) que crianças nudistas geralmente têm atitudes sexuais mais saudáveis do que crianças que não são nudistas.

UM DESAFIO PARA OS SWINGERS

Tenho consciência de que este jornal é lido por muitas pessoas da comunidade swinging. Enquanto os Cristãos Libertos geralmente defendem esta comunidade, uma das maiores dificuldades que tive com essa perspectiva foi seu completo silêncio com relação à sexualidade da criança. Ao ouvir muitos swingers, quase parece ser para eles uma questão de honra esconder de seus filhos suas atividades de swing. Se a abordagem sobre educação sexual se der da mesma forma, pode-se questionar se os filhos de pais que praticam swing são tão ignorantes quanto aos demais na sociedade. Gostaria de chamar os leitores deste boletim e os membros dos nossos grupos em Phoenix, para começar a enfrentar seriamente os desafios de lidar com a sexualidade de seus filhos e de se envolver de alguma forma, ao falar de uma melhor educação sexual e uma maior abertura para discutir essas questões junto a família, a igreja e a escola.

O CONTATO SEXUAL ENTRE O ADULTO E A CRIANÇA: SAUDÁVEL OU DOENTIO?

Padrões do passado e de outras culturas

A partir da discussão acima, entendemos a importância do desenvolvimento sexual saudável para as crianças e importância da compreensão dos pais e da educação neste tema. Também percebemos que os pais em outras culturas não escondem suas próprias atividades sexuais de seus filhos e pode até ter algum envolvimento físico com eles no desenvolvimento e incentivar o seu crescimento sexual. Então, pode ser feita a seguinte pergunta: Até que ponto os adultos deve ajudar seus filhos para educá-los sexualmente?

Com a preocupação de nossa sociedade, o grande tabu é o de que adultos se envolvam em atividades sexuais específicas com crianças. Reconhecemos que até mesmo os que se consideram liberais sobre a sexualidade podem nos questionar, levantando a essa questão.

Estamos nesta discussão a fim de encontrar justificativas para atividade sexual entre adultos e crianças? O leitor terá que decidir o que pensa a respeito de nossos motivos. Não estamos levantando esta questão a fim de ofender ninguém tampouco propor tal atividade. Porém, é importante lembrar que, anteriormente, discutimos a dificuldade de traçar um paralelo claro entre a infância e a vida adulta sob um ponto de vista cultural e histórico. Destacamos, então, que, na realidade, as crianças são adultos sexuais na puberdade.

Também é preciso dizer que, em outras culturas, antes das crianças começarem a ser consideradas excessivamente frágeis e com uma necessidade que em nossa cultura atingiu fases de mimo, o sexo entre “adultos” e “crianças” realmente não era incomum. O casamento entre meninas muito jovens e homens muito mais velhos se tornaram comuns em muitas culturas ao longo da história. Digo isso sem passar qualquer juízo de valor especial sobre a sabedoria de tais uniões.

Também é preciso notar que ambas as regras religiosas e sociais a sobre esta questão são culturalmente condicionadas e não dadas por Deus. Entre todas as leis sexuais do Antigo Testamento, por exemplo, até onde sei, não há sequer uma que fale a respeito do assunto que poderíamos chamar de sexo entre adultos e crianças.

Todo padrão religioso, social e jurídico que estigmatiza de forma tão severa o sexo entre adultos e crianças é, de fato, um avanço em relação aos padrões do passado? À luz das práticas de outras culturas e do silêncio das Escrituras, pode-se fazer esses questionamentos.

Abuso sexual: problemas e paranoia:

Vejamos alguns dos resultados dessa atitude moderna negativa. Nos últimos quinze a vinte anos, temos visto a criação de quase uma indústria dedicada a nos convencer de que provavelmente há pais que abusam sexualmente em nosso bloco ou entre nossos parentes além de molestadores entre professores, vizinhos e tios amorosos de nossas crianças. Isso começou no final dos anos 70 e culminou em vários casos de abuso sexual e na cultura do “não fale com estranhos”, nos anos 80. Nos anos 90, vimos adultos se libertarem da moda da memória reprimida.

Sem dúvida, o enorme aumento na “descoberta” e repressão de casos de abuso e molestamento neste país, durante este período, deve-se, em parte, a uma maior consciência a respeito dos possíveis problemas, enquanto, em épocas anteriores, tais atividade era simplesmente esquecidas ou silenciadas com mais sucesso.

Por outro lado, a trilha da descoberta e da repressão de tais casos neste período está repleta de táticas de caças às bruxas e testemunhos até daqueles reconhecidos como especialistas em crianças, além de assistentes sociais e promotores públicos, bem como o notório e fracassado caso de MacMartin Preschool. Inúmeros casos importantes foram excluídos ou revertidos em segunda estância, porém não antes dos acusados de serem os grandes monstros da sociedade se arruinarem emocionalmente, profissionalmente e financeiramente.

Há vários casos clássicos nos anos 70 em que os filhos de pais nudistas foram levados por acusações de abuso sexual por parentes vingativos ou vizinhos intrometidos e hipócritas. Crianças eram, por fim, devolvidas, mas em pelo menos um caso foram separadas de seus pais por cinco anos, enquanto o caso se arrastava entre os tribunais. Talvez seja compreensível, até certo ponto, o porquê do trabalho dos nudistas sociais para convencer o público de que o nudismo e o sexo não tem nada a ver um com o outro.

As campanhas recém-nascidas tipicamente engajadas em excessos. E esta, que atua em ambos os desejos instintivos de proteger as crianças e a noção culturalmente criada de que crianças não podem escolher nenhum tipo atividade sexual com adultos, não é exceção.

Pais e filhos em meio em uma intimidade saudável

Voltando à Sexualidade Humana - Uma enciclopédia, aprendemos muito sobre a intimidade dos pais com os seus filhos ou a falta dela:

Muito antes de haver qualquer possibilidade de muito prazer mútuo de estilo adulto de atividade sexual entre crianças e adultos, as crianças de nossa cultura aprenderam sem instrução verbal que os adultos, até mesmo os seus pais, raramente são fisicamente íntimos com eles em qualquer nível, especialmente após uma certa idade. A interação íntima entre pais e filhos torna-se comedida e a experiência da criança com a intimidade entra em uma fase de privação que dura pelo menos até a adolescência e o início da fase do namoro.

“Se tocar muito”, principalmente para os meninos, causa desconforto aos pais”. “Os filhos, imitando seus pais, expressam notavelmente menos carinho físico do que as filhas em seus amigos e parentes”. Atitudes homofóbicas entre homens aparecem cedo. Pesquisadores acreditam que essas atitudes desempenham um papel significativo no medo de intimidade de meninos e homens. (p. 114-115)

A obsessão pelo abuso e molestamento na cultural atual se agrega de forma dramática ao medo de adultos em tocar em crianças, mesmo seus próprios filhos, e o medo de que as crianças sejam tocadas. Chegamos a um ponto em que os pais e os adultos têm sofrido uma lavagem cerebral para pensar em si mesmos como pervertidos se, fisicamente, forem muito íntimos de pré-adolescentes e adolescentes, especialmente os que são do sexo oposto, mesmo quando tal contato físico não possa ser interpretado como sexual.

Aqueles que se corresponderam com Dave pela internet apontaram que é aceitável exibir a crianças graus chocantes de violência, incluindo filmes de Rambo, jogos de guerra violentos e esportes violentos como o boxe ou hóquei. Porém, não é aceitável permitir que eles vejam imagens sexualmente explícitas para mostrar afeição física em relação a eles em público ou falar explicitamente com eles sobre sexo.

Estudos têm tirado conclusões diferentes a respeito da ligação entre as crianças verem a violência na TV e em filmes e cometerem atos violentos. No entanto, alguns atos de violência dos jovens foram claramente copiados do que esses observam nos meios de comunicação, de acordo com as suas próprias confissões.

Mas o mesmo relato via Internet mencionado acima ressalta que não há nenhuma evidência clínica de que observar a atividade sexual alheia é de alguma forma prejudicial para as crianças, especialmente quando se explica aos muito jovens que não se trata de um ato de violência ou dor. A curiosidade saudável, e mesmo o fascínio, e em seguida, a aceitação é a reação habitual. Algumas evidências também indicam que alguns criminosos sexuais recebem pouca ou nenhuma informação sobre a criança ter sido exposta a materiais explícitos sobre sexo. Esta é exatamente a situação oposta à reivindicada por alguns conservadores em cruzada contra a educação sexual, a pornografia e ao sexo nos meios de comunicação.

Um jovem de treze anos que gostou do “abuso”

Recentemente, um homem postou esta mensagem na Internet: “Experimentei uma situação de abordagem sexual quando tinha 13 anos. O que a maioria das pessoas esquece é que a forma como uma criança se afeta é, em grande parte, devido à reação da sociedade é condicionado pela mesma. Eu não teria tido metade do trauma se não tivesse sido para a implantação [da ideia] de que o sexo é ruim para qualquer pessoa, [mas que o adulto] que se aproximou e me tocou foi um mal e eu fui ‘violado’ - embora eu tenha gostado da experiência, sendo que tive um bom orgasmo. Foi bom! Depois, houve uma sequência de confusão e angústia porque o que eu tinha experimentado era ‘impróprio’. Então, passei alguns anos de dificuldades, não por causa do próprio incidente, mas devido ao meu condicionamento anti-sexual”.

Ele continua com um relato que não consegui confirmar de forma imparcial: “Há alguns anos atrás (em um programa de entrevistas), um rapaz de 16 anos disse que quando tinha 13 anos, teve um caso com uma guarda da escola. O caso durou dois anos. Em seguida, ele afirmou que, enquanto durou, foi ótimo -- ele amou cada segundo.... Bem...seus pais fizeram um escândalo. O garoto foi mandado para um psiquiatra alegando que o mesmo tinha sofrido abuso. Após um ano de condicionamento, ele vai a um programa de entrevistas e fala sobre algo horrível que uma mulher fez a ele -- e ainda atesta que acha que foi ótimo enquanto durou -- ele não sabia que estava sofrendo abuso naquele momento. E então, quem eu lhe disse que foi o causador dos danos?”

A desordem da cultura e uma Palavra de Prudência

Esse relato talvez demonstre de maneira mais eloquente do que eu ou profissionais como a confusão sobre sexualidade e infância em nossa cultura, a impossibilidade de desenhar uma linha entre a infância e a idade adulta e a ignorância geral e incompreensão da sexualidade colocam em questão a máxima popular e jurídica sobre o sexo entre adultos e crianças.

Existem algumas variáveis entre os pesquisadores profissionais a respeito da nocividade ou benefícios de experiências sexuais compartilhados por crianças e adultos. Alguns profissionais sugerem que pode não haver mal nenhum em experiências não coercivas. Tal opinião parece se encaixar com o depoimento de pessoas como a que acabamos de citar. Esta mudança de opinião entre aqueles que estudam a sexualidade na infância, sugere, pelo menos, que os adultos não estão cometendo um “pecado imperdoável” meramente por repensar a respeito dessas questões.

Apesar de não querer fazê-lo, preciso dizer que devemos dizer que não aconselhamos nem toleramos que os adultos façam sexo com jovens em “idade legal” por pelo menos dois motivos: O primeiro é CADEIA (sem pequena razão, infelizmente) e o segundo é que as implicações psicológicas de tal atividade em nossa cultura podem ser muito diferentes das implicações em culturas onde essa atividade tem sido a norma.

Não podemos nos converter de repente às normas permissivas e radicalmente abertas de outras culturas, não importa o quão atraentes eles possam ser. Esse não é o ponto central desta discussão. No entanto, gostaria de resumir o que aprendemos nesse debate sobre sexualidade na infância. Então, farei algumas sugestões que, se forem seguidas, poderão ajudar os pais e outros em relação a uma abordagem mais saudável e prática para lidar com a sexualidade na infância. ​No entanto, antes disso, gostaria de citar alguns exemplos anunciados pela mídia ​da estranheza que permanece em nossa cultura com relação às crianças e à sexualidade.

ESQUISITICES SEXUAIS EM NOSSA CULTURA: DOIS CASOS ATUAIS

Em primeiro lugar, o golpe nos anúncios da Calvin Klein que usavam adolescentes, anúncios que foram retirados de revistas e programas de televisão após alegações públicas de que eram "obscenos" e uma exploração infantil.

Até agora, no que se refere a publicidade, esses anúncios tem claramente o intuito de utilizar o sexo para vender roupas -- não é nenhum novo fenômeno em nossa cultura. As reações de pais furiosos, dos intelectuais e até do FBI em relação às propagandas são exemplos dos esforços ridículos e inúteis em negar que “crianças” (adolescentes, não menos, neste caso) são sexuais.

Em segundo lugar, pode-se ilustrar a mesma visão religiosa e cultural limitada pelo protesto contra nova queda de programas de TV no horário nobre, cujo conteúdo dos meios de comunicação se referem de forma recatada a “temas adultos”. É claro que isto contrasta com o “visionamento familiar” do antigo sagrado na programação do início da noite. Quando retiramos toda a linguagem de cortina de fumaça, essa polêmica é sobre a nova inclusão do sexo no horário nobre. A conclusão tradicional é a de que o sexo não é um “valor familiar”.

O QUE ESTAMOS APRENDENDO E PARA ONDE VAMOS?

Estes são apenas mais exemplos (incansáveis) de nossa negação de que crianças e sexo não estão relacionados. É justamente este tipo de absurdo que deve acender a reforma entre aqueles que afirmam ser mais liberais em relação a sexualidade. Será bom para gerações futuras se aqueles que fazem tal afirmação não começam a agir para mudar as atitudes em nossas famílias, igrejas e comunidades, incluindo nossas escolas.

É necessário um ensino e gerenciamento sadios, sensatos, realistas e liberais para criar crianças que compreendem sua sexualidade, aceitam-na como normal, reconhecem suas dimensões espirituais, respeitam a sexualidade alheia e desfrutam de atividades sexuais de formas apropriadas. É necessário abandonar a antiga miopia religiosa e cultural de ver o sexo como apenas ou principalmente para a procriação (e, portanto, apenas permitido no casamento), ajudar nossos jovens a aproveitá-lo de forma responsável para em benefício da consolidação dos relacionamentos, como preparação para os mesmos no futuro e em benefício do seu papel legítimo de dar e receber prazer.

O que aprendemos com esse debate sobre a sexualidade na infância?

1. Em séculos passados, a mudança de ponto de vista em relação às crianças provocou a crença de que as crianças são não sexuais. Isto resulta na resistência em educar as crianças sexualmente acreditando que eles não devem se envolver em atividades sexuais que não podem concordar de forma sensata com tal atividade com seus pares e com adultos.

2. Não é difícil e nem rápida a distinção entre a infância e a fase adulta em termos biológicos e psicológicos. Varia de cultura para cultura e se modificou ao longo da história.

3. As culturas ancestrais algumas modernas consideravam a sexualidade como normal e a atividade sexual entre jovens como normal e deve-se incentivar ao invés de reprimir.

4. Há uma ignorância pavorosa e muitos pontos de vista negativos em relação a sexualidade em nossa cultura. Isto é o resultado do preconceito Cristão e de outras culturas.

5. A igreja cristã criou doutrinas afim de apoiar seu ponto de vista negativo quanto a sexualidade. O governo civil criou leis para aplicar os valores morais consagrados nessas doutrinas. Estas doutrinas e leis não se baseiam nos verdadeiros ensinamentos bíblicos e de fato contribuem para uma escravidão física e espiritual ao inibir o potencial da nossa humanidade em seu aspecto sexual.

6. As crianças de todas as idades são seres sexuais, capazes de certos tipos e níveis de atividade e prazer sexuais.

7. A sexualidade das crianças é uma criação de Deus, normal e benéfica, mas não pecadora e prejudicial.

8. As crianças desenvolvem suas atitudes sexuais em relação a elas mesmas e aos outros baseado nas atitudes em ensinamentos de seus pais; em nossa cultura, a tática repressiva dos pais resulta em atitudes sexuais negativas de crianças.

9. As atitudes sexuais negativas que se desenvolvem na infância provocam inevitavelmente atitudes sexuais negativas e o funcionamento na vida adulta.

10. Os problemas sexuais mais importantes em nossa sociedade não se trata do sexo antes do casamento, da gravidez indesejada na adolescência ou até a AIDS; é a incapacidade de aceitar a sexualidade de nossos filhos e de ensinar a eles a aceitá-la e aproveitá-la de forma responsável.

11. Os exemplos de outras culturas e os resultados estranhos e prejudiciais da ênfase excessiva em nossa cultura sobre o abuso sexual infantil sugere que nossa cultura está longe de amadurecer em seus pontos de vista da atividade sexual entre adultos e crianças.

Para onde vamos? - Sugestões para desenvolver crianças sexualmente saudáveis

1. Os cristão leigos e os profissionais do ministério devem comprometer-se a estudar as Escrituras Sagradas à luz da evidência histórica e linguística para determinar se os ensinamentos negativos tradicionais do cristianismo em relação ao sexo são o que as Escrituras Sagradas realmente ensinam. Além disso devem estar cientes de que a Bíblia não é um livro sobre sexualidade e que, portanto, muitas questões não podem ser resolvidas diretamente a partir seus ensinamentos. Isto sugere que nos dão a liberdade de escolher as nossas próprias preferências em relação a muitas questões sexuais e que Deus não está preocupado com eles da mesma forma como muitos cristãos estão. (Um caso em questão: a Bíblia não faz qualquer referência à pornografia [melhor chamada de “erótica”]; portanto, é um uso errado do texto bíblico para justificar que as passagens que lidam com “luxúria” possam ser aplicadas à pornografia.)

2. Como a maioria dos cristãos conservadores não pode aceitar novas interpretações radicais da Escritura Sagrada que desafiam suas visões tradicionais presas, pessoas em igrejas conservadoras, que têm mais pontos de vista sobre estas questões, devem tentar obter a atenção dos pastores de mente mais aberta e de líderes jovens e lhes mostrar, a partir de Escritura Sagrada, que as visões tradicionais não resistem ao estudo sério. É provável que apenas líderes respeitados sejam capazes de ajudar os cristãos a mudar seus pontos de vista sobre a sexualidade.

3. Os adultos devem enfrentar o problema da aceitação, cura e exploração de sua própria sexualidade como um aspecto de sua humanidade e espiritualidade dado por Deus. Eles devem buscar pessoas, recursos publicados e até mesmo terapeutas que possam ajudar neste processo. Há esperança para as crianças apenas se os adultos começarem a lidar com suas próprias atitudes em relação à sexualidade.

4. Adultos, especialmente os pais e os líderes da igreja, deve procurar sexo de qualidade materiais de educativos preparados para auxiliá-los a ajudar seus filhos, bem como materiais preparados especialmente para crianças de várias idades. Os pais cristãos conservadores terão que se afastar de suas fronteiras tradicionais e ir de encontro aos materiais de igrejas mais “liberais” ou fontes seculares afim de localizar esses materiais e depois adaptá-los à sua própria perspectiva cristã.

5. Os pais e outros adultos interessados devem procurar outras pessoas para discutir e orar sobre seus próprios problemas sexuais e os de seus filhos. Eles devem encontrar forças um no outro afim de planejar e executar, talvez com ajuda profissional, novas formas de ensinar filhos.

6. Os pais não devem ir se culpar ao perceber que falharam ao promover o desenvolvimento saudável e liberdade para os seus filhos em termos de sexualidade, mas tendem a seguir os caminhos negativos da tradição. Ao invés disso, devem perceber que estes caminhos podem ser alterados, não tão facilmente, mas com determinação e ajuda de outras fontes.

7. Com a ajuda cuidadosa e o apoio um de ambos os lados, os pais devem repensar a sua tendência a recuar até mesmo da demonstração de afeto físico em relação aos seus filhos. Isso pode ser assustador. Além disso, pode ser muito difícil recriar esse carinho com as crianças mais velhas que não vivenciaram essa experiência nos últimos anos - e não há nenhuma garantia de sucesso. Os pais de crianças mais jovens devem observar seus padrões de afeto físico e perceber que é melhor errar pelo excesso do que errar por fazer pouco. Esses desafios podem confrontar os adultos com seus próprios problemas com intimidade física (atividade não sexual), o que pode exigir que procurem sua própria cura nessas áreas.

8. As crianças precisam ser ensinado que é normal explorar sua própria sexualidade e, com orientação e apoio adequados, devem experimentá-la com seus pares. Neste caso, a dificuldade é que os pais de outras crianças possam não ter a mente aberta sobre tais aspectos. Curiosamente, as crianças fazem isso sem o conhecimento dos pais, por isso talvez seja melhor simplesmente deixar que seus filhos saibam que tal exploração é normal para você e que está disposto a lidar com outros pais, se necessário.

9. Os filhos adolescentes precisam ser ensinados sobre detalhes da vida sexual e as técnicas de relações sexuais. Sobretudo, precisam ser ensinados a amar os outros e entender que o amor sexual é aceito por Deus em qualquer idade. Eles precisam ser ensinados sobre a verdadeira intimidade em relacionamentos e não apenas como “ter relações sexuais”. Eles precisam ser ensinados como ser responsável em sua amorosa, o que inclui procedimentos de sexo seguro.

10. As crianças precisam ver que seus pais não têm vergonha de sua própria sexualidade. Os pais de crianças pequenas devem considerar não esconder seus próprios encontros sexuais de seus filhos para que eles cresçam sabendo que não há nada vergonhoso sobre essas atividades.

11. Os pais devem se tornar conscientes de que, na escola, seus filhos estão sendo ensinados sobre sexualidade. Entre as razões dadas pela direita religiosa se opor a educação sexual nas escolas públicas estão essas coisas que devem ser ensinadas em casa. Eles estão tecnicamente certos, mas seus motivos não só são suspeitos (eles não querem opiniões liberais sobre sexo cheguem até seus filhos), mas eles realmente não ensinam seus filhos em casa tudo que diz respeito ao sexo. Se todos os pais o fizessem, talvez não fosse necessária a educação sexual na escola pública. Se os pais se sentem incapazes de ensinar os seus filhos, então devem, pelo menos, apoiar programas escolares saudáveis que realmente ensinem as crianças um comportamento sexual responsável e não apenas a abstinência, o que realmente não funciona.

12. Os pais devem lutar por seus próprios direitos sexuais e não deixá-los ser impostos pela direita religiosa e suas autoridades legislativas ou a reação exagerada de execução, se feita na área da censura de materiais sexualmente explícitos, na legislação anti-nudez ou nos direitos de adultos de desfrutar de qualquer área de atividade sexual que não infrinja os direitos de outros.

13. Não tenho um grande conselho para dar na área da atividade sexual entre adultos e crianças. As mudanças nesta área virão devagar, bem como em todas as áreas em que os preconceitos antigos estão presentes. Os pais devem procurar seus próprios motivos, suas consciências e buscar criar formas saudáveis, responsáveis e sempre não coercivas se relacionar fisicamente e emocionalmente com seus filhos. Apesar da natureza controversa destas questões, talvez os pais devam, pelo menos, quebrar o tabu do silêncio e falar com outras pessoas sobre seus sentimentos, ideias e que eles e aprender a partir de materiais como este trabalho Talvez as futuras gerações irão reconhecer mais plenamente a fusão da natureza da infância da idade adulta, ao invés de insistir no ponto de vista de ruptura radical entre essas fases da vida. Talvez essas gerações olharão para trás em algumas das preocupações exageradas dos nossos dias com a diversão de termos sido imaturos.

14. Por fim, convido os leitores a darem seu feedback aos cristãos libertos a respeito dos argumentos deste texto. O diálogo nunca é ruim e deve favorecer a compreensão, especialmente em áreas difíceis de pensamento e prática. Não somos especialistas, mas estamos abertos a compartilhar o que acreditamos que entendemos, criando meios para discussão em grupo para suceder e aprender com os outros.

Texto original: http://www.libchrist.com/bible/child.html

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